segunda-feira, 16 de maio de 2016

16 de Maio de 1536 - Diário de Ana Bolena


O meu amigo arcebispo Cranmer veio visitar-me. Por um instante pensei que viesse trazer-me o perdão do rei - talvez o meu desterro para um convento distante. Mas o único alívio trazido por Cranmer é a morte indolor. Não serei queimada, pois o rei assim dispôs. Pobre Cranmer... magro como uma espada, o nariz afilado e os olhos apagados pelo sofrimento. Cheirava a incenso como se estivesse estado a rezar longas horas na capela cheia de fumo. Porém, a sua voz era forte e firme quando me saudou, conseguindo mesmo esboçar um sorriso. Porém, tinha pouco tempo e passou a informar-me da missão de que o secretário Cromwell o encarregara. 
- O rei e Cromwell estão informados das minhas disposições. - Disse. - Escrevi a Sua Majestade após a vossa prisão, dizendo nunca ter tido melhor opinião de outra mulher e que logo a seguir ao rei éreis a criatura por quem mais estima sinto.
- Haveis escrito isso ao rei?
- Claro que sim. Trata-se da verdade.
- Haveis sido muito corajoso, sir Thomas.
- O rei está decidido a contrair novo casamento, Ana. - disse, aclarando a garganta. - Não quer que haja qualquer impedimento. Além do mais, exige que Elizabeth... seja considerada bastarda.
Estremeci ao ouvir tão terríveis palavras. Tudo o que fizera em prol de minha filha tinha sido em vão.
- Não lhe basta a minha morte?
- Uns dias antes do vosso julgamento, tentou obrigar pela força Henry Percy a assinar um documento afirmando o pré-contrato de matrimônio que ambos havíeis feito. Percy estava muito fraco e doente, mas recusou. Agora o rei exige que sejais vós a fornecer-lhe prova de que o casamento com ele é nulo e inválido. 
- Quer que eu lhe forneça a prova?
- Sim. Podeis contradizer Lord Northumberland e afirmar que ele fez convosco o pré-contrato, ou podeis informar que o rei do seu próprio caso com vossa irmã, o que o colocará num grau de afinidade demasiado próximo para vos poder desposar.
- Então o rei deseja ser informado por mim de que fornicou com Mary...
- Não me peçais que vos explique as estranhas ideias de Henry. Sabeis que é impossível...
Porém, o meu espírito animara-se já com as possibilidades.
- Se nunca fomos casados, Cranmer, então nunca fui rainha. Não será assim?
- Sim.
- E o adultério, noutra que não a rainha, não poderá ser considerado traição.
- Vejo os caminhos do vosso raciocínio, senhora. - Disse hesitando na escolha das palavras. - Mas, infelizmente, não é desejo do rei manter-vos viva. Apenas deseja que Elizabeth seja considerada ilegítima. (...)

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